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Migalhas e securas das nossas quebradas

 

Artigo reproduzido pelo site do jornal Brasil de Fato no link http://www.brasildefato.com.br/node/31231

 

Tô esperando o editorial do Estadão, a matéria do Jornal Nacional ou a capa da Veja, explicar de vez que a falta de água está na fase final no plano de engabelação

 

03/02/2015

 

Por Michel Yakini

 

Alguns assuntos ficaram me rondando essa semana para pautar a coluna e tudo me pareceu repetitivo e desgastado o bastante pra não merecer uma linha de atenção. Sabe aquele papo caduco que já sabemos qual o lado manco e ainda assim insistimos no verbo da bengala trincada?

JE SUIS CHANDOLA!

Quero saber onde estão as faixas: Je suis Chandola! Je suis Marquinho! Je suis Bito! Je suis Digão! Je suis Mães de Maio!

A chacina nossa de cada dia não tem piedade via satélite, nem pálidas passeatas em praça pública, e a tal liberdade de expressão tá entupida pelo silêncio do cano quente. A gente chora o clamor televisivo e não raciocina que tudo vai acontecer de novo, já, já (os chefes de estado, assassinos linha de frente das passeatas francesas, sabem disso), pois a discussão aprofundada sobre xenofobia, racismo e intolerância religiosa fica pro tablóide-chacota e pra plateia-hiena do stand-up dus comédia.

CUBA E O DIÁLOGO DO MISTÉRIO

O que acontecerá a Cuba, após o anúncio de diálogo com os Estados Unidos? Certo é que os EUA até agora não se pronunciaram positivamente sobre a devolução de Guantánamo, uma indenização pelos efeitos do embargo, tampouco pelo fim do embargo. Já sabemos que os estadunidenses voltarão a ir à ilha, e o povo cubano espera ansioso para ver seus familiares que não puderam retornar.

A pressão é para que Cuba seja uma democracia e um país de mercado. O presidente Castro concorda em parte com as concessões, mas diz que não mudará o modelo político do país. Nas ruas de Havana as prosas declaram um misto de esperança e desconfiança, pois todos sabem a parte que lhe cabem nesse latifúndio e quem é o dono dos bois. Os cidadãos cubanos pedem paz, tolerância, amor entre cubanos, fé e diálogo e os Estados Unidos continuam a praticar o mistério. O que querem realmente?

É preciso considerar também os cidadãos cubanos que não concordam com o discurso e prática política aplicada há mais de meio século na ilha, sem nenhuma mudança ou abertura. Esses são a favor da independência individual, sem que não os acuse de direitistas, pois não pertencem à elite cubana no exterior. São revolucionários, mas não são comunistas, apenas querem ter voz entre tantas dicotomias rígidas.

TORNEIRA SECA E VELA BRANCA.

Tô esperando o editorial do Estadão, a matéria do Jornal Nacional ou a capa da Veja, explicar de vez que a falta de água está na fase final no plano de engabelação. Daqui a pouco vem o corte de 4 ou 5 dias por semana nas quebradas, a conta cara pelo volume morto, a empreiteiras lucrando com o caos, enquanto o abastecimento segue a todo vapor nas indústrias fedorentas e no agronegócio venenoso. Quem sabe assim cessa o xaveco furado de que a solução é parar com o desperdício na máquina de lavar, no banho de dez minutos e no copo com água. 

Afinal, agora tem o apagão também, que vai justificar bonito as hidroelétricas devastadoras em Belo Monte, e assim tudo ficará na conta federal pra daqui quatro anos a população seguir hipnotizada pela cara de pau dos alckimistas em SP.

3,50 NÃO!

Tudo orquestrado. Fui um ano e meio de planejamento. Passe livre aos estudantes e o restante paga a conta. Assim os estudantes ficariam quietos ou passariam de vitimas a algozes, mas esse tiro saiu pela culatra. O MPL convocou as ruas.

O que me preocupa é o inicio das chamadas “passeatas pacificas”. Essas que os policiais só ficam olhando e tudo termina sem sentido na Vila Olímpia. Como as de 2013 que viraram um desfile de shopping recheado de intervenção militar, já! e rechaço a tudo que era vermelho, pois isso é parte do planejamento, esvazia o discurso contra o aumento da tarifa e levanta a múmia da Tradição Família e Propriedade. Tomara que não seja esse cenário novamente e que a orquestra das catracas de ouro continue desafinada até sair de cena.

Michel Yakini é escritor e produtor cultural. www.michelyakini.com

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