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Adeus 2015, já vai tarde!

 

Crônica reproduzida pelo site do jornal Brasil de Fato no link - http://brasildefato.com.br/node/33774

 

 

Na moral, sei que não é só mazela. Na hora chave a positividade e o adianto reinaram, mas - sinceramente - dedico de todo meu coração: adeus 2015, já vai tarde!

 

22/12/2015

Por Michel Yakini

 

Eita que começamos e terminamos o ano na lamentação, pedindo paz por causa de tanta morte injusta que aconteceu na França, onde sabemos de cór o nome da revista e da casa de show e acompanhamos a caça aos supostos líderes dos ataques.

 

Mas… e os culpados pelas chacinas do bairro da Cabula, em Salvador; na sede da torcida do Corinthians, na madrugada sangrenta do Jardim São Luis, de Osasco-Barueri (SP); e pela mulecada do Rio de Janeiro? E tantos outros apagados nas crocodilas-madrugadas que  não viraram notícia? 

Gente preta e pobre sendo fuzilada por atacado e sem justiça é coisa que não muda. Desde 1500 a história é a mesma: sangrenta, rica e mandona. Zumbi em banzo!

 

Também foi embaçado aguentar a hipocrisia da torcida brasileira vestir seu manto delnero-marin pra pedir o fim da corrupção, cuspindo ódio pra defender seu país, exigindo a divórcio do que já tá separado, batendo panela e arrotando canapé enquanto a dinheirama correu solta pros bancos e nossa morada fedendo à crise e desemprego.

 

Em Brasília continua o lenga-lenga do “quem pode mais, chora menos”. Todo mundo de rabo preso ameaçando o efeito dominó e choramingando o cargo-gatuno que não chegou no seu gabinete. 

Agora, meu pirão primeiro, mas na hora da eleição - da subida ao planalto, da festinha só pros convidados - o brinde foi na mesma taça, fruto da tal esquerda que se perdeu na direção-inglesa. E, pra piorar, a Argentina e a Venezuela já avisaram o que vem por aí.

 

Enquanto isso, a lama podre da Samarco arregaçou com a natureza do Rio Doce ao mar do Espírito Santo, com a vida de centenas de famílias, e com a subsistência dos pescadores que só sabem fazer isso da vida.

Chacina do mesmo jeito, que desde 1500 nunca deu nem vai dar em nada. Ano que vem tem eleição e é dessa lama que vem o salário dos ‘marketeiros’, dos jingles e da dentadura-vale-voto. 

 

Em São Paulo, lascô! Múmias Russulmânicas, Datênicas e Skafianas assombram mais uma vez e o tal prefeito-gato aparece bonito na fita, pedalando na ciclovia, comendo no food-truck, fechando a Paulista pra agradar a classe mérdia, com evento marcado no face pra festa de reeleição e pra mudança de título dos simpatizantes de outras pirambeiras. Só que na periferia nem me viu, todo gato é pardo, toda dengue é nossa, toda consulta é pra cinco meses, toda reintegração é cumprida e todo artista é tirado. Então, se fecha prefeito.

 

Já o Governo do Estado, além de acobertar as chacinas já ditas, também secou nossas torneiras em favor de grandes corporações e da máfia que ronda as represas. E ramelou, como sempre, com a educação ignorando a greve dos professores, assim como seu comparsa de partido fez no Paraná. 

 

Mas Geraldo Alckimin deu um tiro no pé quando decretou a reorganização do ensino público. Talvez aí more o único motivo real pra gente sorrir em meio a um ano tão ingrato. Nem preciso dizer, tá fresquinho na memória e na intenção a luta dos estudantes virando um jogo quase impossível. Tá valendo! Vocês acenderam o farol capenga de 2015, pra gente levantar a cabeça e continuar na lida e no fundamento de um ano novo ainda incerto. Gratidão!

 

Também é importante relembrar com alegria as mulheres negras marchando em Brasília em novembro, em um fato histórico, enfrentando a macheza e a bala (literalmente!), e nos dando provas que há proteção que nos valha, e sempre nos valeu, pra sobreviver nessa negação de existência que veio feito avalanche em 2015, mas é cria de 1500.

Ufa! Que ano! 

 

Na moral, sei que não é só mazela. Na hora chave, a positividade e o adianto reinaram, mas, sinceramente, dedico de todo meu coração: Adeus 2015, já vai tarde! 

 

Michel Yakini é escritor e produtor cultural

www.michelyakini.com

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